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A conservação do Cerrado e de suas populações tradicionais está ameaçada no Mosaico Sertão Veredas Peruaçu, uma área significativa de aproximadamente

1,8 milhão de hectares situada no norte/noroeste de Minas Gerais e sudoeste da Bahia.

Um mapeamento produzido pelo WWF-Brasil indica que o território ainda preserva 62% de vegetação nativa do Cerrado, no entanto, preocupa o fato de o território já estar ocupado com 37% de atividade agropecuária. Além disso, os altos índices de desmatamento e queimadas apresentados nos últimos anos. No período de 2010-2016 foram desmatados 30.043 hectares, uma área que equivale aproximadamente ao tamanho da cidade de Belo Horizonte.

Outro fato preocupante é que a maioria desses desmatamentos e queimadas está ocorrendo dentro de unidades de conservação (11.347 ha), principalmente aquelas tipificadas como de uso sustentável – essas áreas são criadas, justamente, para conter esse tipo de problema. Entre as áreas protegidas mais afetadas no Mosaico, a Área de Proteção Ambiental (APA) Pandeiros, a maior do estado de Minas Gerais, está no topo.

Os dados permitem identificar áreas onde as queimadas são mais frequentes, possibilitando o desenvolvimento de estratégias de prevenção para combate ao fogo. A iniciativa também possibilita acompanhar a mudança de uso do solo na região, e destaca o enorme papel das unidades de conservação de proteção integral para a proteção contra o desmatamento e incêndios.

O mapa abaixo dá uma dimensão da dinâmica de desmatamento no MSVP.

Mapa do desmatamento do Mosaico Sertão Veredas Peruaçu (Foto: Reprodução)

Uma parte significativa da causa disso é o avanço da produção de soja, uma vez que o Cerrado se apresenta como celeiro da produção por ser menos protegido pela lei ambiental brasileira, ter mais infraestrutura e preço da terra atraente para a cultura agrícola.

De acordo com o relatório “Análise Geoespacial da Dinâmica das Culturas Anuais no Bioma Cerrado: 2000 a 2014”, da Agrosatélite, o bioma foi responsável por 51,9% da área de soja cultivada no Brasil na safra 2013/14 – quase 16 milhões de hectares do Cerrado foram para a produção do grão.

O impacto recai na perda de biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos providos pelo Cerrado, como o fornecimento de água, sequestro de carbono, equilíbrio climático e uma economia sustentável com base no extrativismo considerada forma de vida de muitos povos indígenas e populações tradicionais da região.

O estudo, que já está em sua terceira versão é um forte alerta para que o país, estados e municípios adotem uma agenda de redução de riscos e revertam modelos insustentáveis de desenvolvimento. A sociedade civil e o setor privado também podem fazer sua parte. Não há mais espaço para uma cultura de abundância e de desperdício, como se houvesse um estoque infinito do Cerrado para derrubar, de água onde lançar poluentes e de terras para minerar.

O Cerrado não deve ser protegido apenas pelas incontáveis espécies de animais e plantas lá abrigados, pelas belezas e serviços ambientais que oferecem, mas também porque da saúde regional dependem mais de 200 mil pessoas. Sem contar que nove de cada dez brasileiros necessitam das águas do Cerrado para a geração de eletricidade.

Além de ser um abrigo natural de espécies, o bioma é mantenedor de populações e economias sustentáveis, também é uma preciosa reserva estratégica de água doce, ainda mais importante diante do futuro incerto das mudanças climáticas e da crise hídrica.

Logo, alterar modelos de desenvolvimento, investir no agroextrativismo, criar novas tecnologias sociais de acesso à água, divulgar a região como possível destino para o turismo ecológico de base comunitária e realizar ações preventivas de queimadas e incêndios e o monitoramento contínuo de áreas protegidas foram listadas como ações inteligentes e estratégicas. A produção agropecuária também precisa fazer sua parte e investir em técnicas para que melhores práticas sejam implementadas, como conservação de água e solo, manejo e recuperação de áreas degradadas e integração lavoura-pecuária.

* Cássio Bernardino, analista de conservação do WWF-Brasil

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